02/04/17

2 de Abril. Dia Internacional do Livro Infantil e aniversário do nascimento de HANS CHRISTIAN ANDERSEN (1805, Dinamarca).

2 de Abril. Dia Internacional do Livro Infantil e aniversário do nascimento de HANS CHRISTIAN ANDERSEN (1805, Dinamarca). 
E a actualidade do seu conto A Sorte pode estar num Pauzinho
“Agora vou contar uma história sobre a sorte. Todos nós conhecemos a sorte. Alguns vêem-na ano sim, ano não, outros só em certos anos, num único dia, sim. (...) Então não preciso de contar, pois cada um sabe, que Nosso Senhor envia a criancinha e põe-na no seio da mãe. Pode ser no palácio rico ou na casa do abastado, mas também em campo aberto, onde sopra o vento frio. Contudo, nem todos sabem, e certo é todavia, que Nosso Senhor, quando traz a criança, também traz um presente da sorte para ela, mas este não é posto publicamente ao lado. É posto num lugar do mundo, onde menos se pode pensar encontrá-lo e contudo, sempre é encontrado, é o bom disso. Pode ser posto numa maçã. Foi o caso dum homem culto, que se chamava Newton. A maçã caiu e assim encontrou a sua sorte. Se não conheces a história, pede então a alguém que a conheça que ta conte. Eu tenho uma outra história a contar e é a história duma pêra. Havia um pobre homem, que nascera na pobreza, crescido na pobreza e nela havia casado. Era de resto torneiro de profissão e arranjava especialmente cabos de chapéu de chuva e anéis de chapéu de chuva, mas isso mal chegava da mão para a boca.
- Nunca encontrei a sorte! - dizia ele. 
É uma verdadeira história vivida e pode-se nomear a terra e o lugar, onde o homem vivia, mas isso não tem importância para aqui. As sorvas vermelhas, azedas, cresciam como o ornamento mais rico à volta da sua casa e do jardim. Neste havia, contudo, também uma pereira, mas não dava uma única pêra, e, contudo, a sorte estava nesta pereira, estava nas peras invisíveis. Uma noite soprou o vento bem terrivelmente. Contava-se nos jornais que grandes diligências tinham sido levantadas pelo vento das estradas e lançadas longe como um trapo. Facilmente podia ter sido então um grande ramo quebrado da pereira. O ramo foi posto na oficina e o homem fez de brincadeira dele uma grande pêra e ainda uma grande, depois uma mais pequena e assim algumas completamente pequenas. A árvore tem alguma vez de produzir pêras, disse o homem e assim deu-as às crianças para brincar. À necessidade vital duma terra húmida corresponde verdadeiramente um guarda-chuva. Toda a casa tinha para uso comum apenas um. Se o vento soprava demasiado forte, virava-se o chapéu de chuva, sim, partiu-se deste modo um par de vezes, mas o homem punha-o imediatamente em bom estado outra vez. Contudo, era aborrecido isso, que a maçaneta que devia segurar tudo, quando estava fechado, se soltava demasiadas vezes ou que o anel que estava posto sobre ela, se partisse. Um dia saltou a maçaneta. O homem procurou-a no chão e achou uma das mais pequenas pêras torneadas, uma que as crianças tinham tido para brincar.
- A maçaneta não se encontra - disse o homem - mas esta pequena coisa pode seguramente fazer o mesmo serviço! 
Então fez um buraco nela, atravessou-lhe um cordel e a perazinha fechou bem no anel partido. Foi praticamente a melhor união que o chapéu de chuva então tinha tido. Quando o homem no ano seguinte devia enviar os cabos do chapéu de chuva para a capital, onde fornecia essa espécie, enviou também um par das pequenas pêras torneadas da árvore com um meio anel e pediu para serem experimentadas e assim vieram para a América. Notou-se logo que a perazinha se segurava muito melhor do que qualquer outra união e depois pediram ao comerciante que todos os guarda-chuvas que se seguissem, se fechassem com uma perazinha. Então, houve muito que fazer! Pêras aos milhares! Peras de madeira em todos os chapéus de chuva! O homem teve de se lançar ao trabalho. Torneou e torneou. Toda a pereira se transformou em perazinhas. E isso deu xelins, deu táleres!
- Na pereira estava a minha sorte! - disse o homem. Montou depois uma oficina com operários e aprendizes.” (...) 
HANS CHRISTIAN ANDERSEN - In Histórias e Contos Completos de H. C. Andersen. Tradução de Silva Duarte. Edições Gailivro, 2005

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